terça-feira, 20 de julho de 2010

Não!!!!


"Não!" - se libertou de repente. Porque 'não' não era palavra dita, era sentimento criado, vivido. Era energia flutuando no ar, destruindo paredes, rompendo barreiras, acabando com o velho e óbvio. "Não" era tudo o que sentia agora. E, ainda assustada repetiu: "não...", mas dessa vez já liberta, já curada, falou baixinho, sem pressa de nada, quase um sussurro. Repetiu mesmo só para ter certeza de que podia pronunciar tal palavra de novo. Pelo menos uma vez na vida ela iria mostrar quem manda em quem... e num sobressalto - sem nem terminar o raciocínio - ela percebeu que não mandava nele. Ela obedecia, sempre foi assim e para sempre seria. Quando ela parava, ele continuava insistente, teimoso. Mas, se ele parasse, ela teria de parar também. E, quando ela, moleca, queria contrariar - ah! só o tédio a acompanhava. Mas, se decidisse o seguir, dedicada, a felicidade vinha também! 'É verdade' - ela pensou e um sorriso escapou pelo canto da boca. Se percebia escrava, nascera assim. Mas hoje, afirmou para si, hoje ela havia dito um "não". Pelo menos dessa vez seu coração teria de lhe deixar mandar.

sábado, 17 de julho de 2010

Depois do horizonte...


Naquele dia o ar estava denso, difícil de ser consumido, pesado ao entrar nos pulmões. Era tão simples respirar, era tão simples viver... não hoje! Acreditava em destino, missões, caráter... acreditava em tantas coisas perdidas que se sentia sozinha. E, não queria mudar. Não queria se mudar. Então surgia uma idéia quase genuína, surgia uma inspiração: "vou mudar o mundo, vou viciar todos em amor". E, esse era seu objetivo na vida. Dar amor, distribuir. E, como era difícil. Muitos tinham medo, não tinham interesse, muitos nem sabiam do que se trata. Amor é palavra escondida, pouco explorada. Amor é depois do horizonte. Muitos preferem ficar na praia. Tendo o seguro, o confortável. O amor é perigoso é preciso que se enfrete o mar, é preciso que venham as tempestades e também as calmarias. É preciso que se entedam as cores, a temperatura e a quantidade de espuma. Há intensidade, felicidade, e, isso fere. Mas, ela não receava, estava entregue.E, a lição mais difícil ainda não havia sido dada: como uma devastadora ela adentraria corações que teriam caminhos abertos pelas suas mãos, mas não cabia a ela fincar acampamento nestes. Ela prepararia o solo, germinaria a semente e partiria. Deixando em cada fruto, em cada grão, seu toque, sua face, seu sorriso.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pinga


Bastavam algumas gostas e aquele era um mundo novo. Podia ser doce, atalcado, amadeirado, fresco, palahaço, ange ou demon. Podia ser seu corpo, ou mesmo uma montanha russa. Bastavam algumas gotas e se sentia vestida, se sentia mais forte, se sentia pronta. Bastavam algumas gotas e era um amor do passado, a avó ao seu lado, a roupa lavada, a comida na mesa. Bastavam algumas gotas e era sábado a noite, domingo na igreja, a sua melhor amiga. O teletransporte líquido, a memória em conta-gotas, o spray de alegria... bastavam algumas gotas.